Fundação Tony Elumelu faz parceria com a Universidade de Stanford para lançar estudo sobre empreendedores africanos
Novo pesquisar sobre empreendedores africanos, realizado pela Fundação Tony Elumelu em parceria com a Universidade de Stanford, revela insights sobre os fatores culturais divergentes que influenciam a jornada empreendedora (especialmente das mulheres) em África. As conclusões apontam para alguns padrões e qualidades que favorecem o sucesso empresarial, oferecendo lições de empreendedorismo em África e não só.
Aqui estão os principais insights do relatório:
A disparidade de género no empreendedorismo
A maioria dos empresários em África são mulheres, mas os seus negócios são menos rentáveis e registam um atraso no crescimento em comparação com os seus homólogos. As diferenças entre géneros não são uma questão exclusivamente africana. Nos Estados Unidos, por exemplo, os homens representam mais de 90% dos sócios das 100 maiores empresas de capital de risco e recebem financiamento desproporcional.
O que distingue a perspectiva das mulheres africanas é o facto de as suas opções fora do empreendedorismo serem poucas e raras. Ter sucesso nas suas pequenas empresas pode fazer a diferença entre ganhar uma vida decente e cair na fragilidade económica.
O estudo revela preconceitos de gênero no empreendedorismo. Mulheres e homens relatam diferentes motivações e objetivos empresariais, especialmente no que diz respeito à forma como discutem os seus clientes e produtos. Para os empresários do sexo masculino, as motivações giravam em torno do “lucro”, do “crescimento” ou do “capital”, enquanto a motivação das empreendedoras pendia para o impacto social através de produtos, serviços e indústrias específicas.
Para os empresários do sexo masculino, as motivações giravam em torno do “lucro”, do “crescimento” ou do “capital”, enquanto a motivação das empresárias pendia para o impacto social através de produtos, serviços e indústrias específicas.
Acesso ao capital
A consideração do capital é também um aspecto definidor para a maioria dos empresários africanos. Utilizando um grupo seleccionado de quase 140.000 empreendedores africanos que se candidataram ao Programa de Empreendedorismo da Fundação Tony Elumelu entre 2015 e 2017, o acesso ao capital foi identificado não só como desempenhando um papel crítico na gestão de uma empresa, mas também como foi inicialmente conceptualizado – desde a dimensão e escopo para design e objetivos.
Os empresários africanos, conscientes das suas limitações na obtenção de capital, restringem frequentemente as suas ideias. Com maior acesso e mais oportunidades de financiamento inicial, as PME africanas sonham mais alto e lançam negócios com uma presença maior.
Com maior acesso e mais oportunidades de financiamento inicial, as PME africanas sonham mais alto e lançam negócios com uma presença maior.
Mindset: troca versus organização
A investigação investiga ainda a mentalidade dos empreendedores, apresentando uma compreensão única dos desafios que as start-ups africanas enfrentam e das áreas de crescimento em vários setores. Oferece uma oportunidade para repensar a forma como o empreendedorismo é abordado e apoiado, identificando duas categorias.
O primeiro conjunto de empreendedores – descrito como o mentalidade de troca – baseiam-se no seu propósito de fornecer produtos e serviços, nutrir relacionamentos com funcionários e clientes e agregar valor a terceiros.
O segundo conjunto – o mentalidade organizacional – estão mais preocupados com a sua capacidade de criar, crescer e expandir a sua empresa.
A mentalidade de troca tem uma visão “no terreno” a nível micro, enquanto a mentalidade organizacional centra-se em “ser um empreendedor”, com uma visão mais macro de si próprios e das suas atividades.
Em vez de apenas se orientarem em torno da troca de produtos e/ou serviços com os clientes, os empreendedores com mentalidade organizacional orientam-se em torno do seu propósito de criar e fazer crescer uma empresa. O estudo descobriu que indivíduos com essa mentalidade frequentemente discutiam crescimento e desempenho, gerenciamento de pessoas e ativos e dinâmica do setor. Sua atenção está voltada para as características de seu negócio e seu desempenho e expansão.
Os empreendedores com mentalidade de troca demonstram preocupação com a qualidade dos produtos e serviços. Em contraste, é provável que a mentalidade organizacional expresse motivação interna, como sentimentos de propriedade e controle, levando a um foco individualista.
Ambas as mentalidades têm estilos de gestão variados, sendo que a primeira vê e descreve os seus colaboradores como iguais, cujas opiniões são valorizadas, e a segunda como recursos a serem geridos. Embora possam existir diferenças nas mentalidades empreendedoras, os empresários africanos são fundamentalmente caracterizados pelo seu zelo em causar um impacto significativo.
Diferenças culturais
Estas diferenças foram mais visíveis geograficamente na África Setentrional, Ocidental, Oriental e Central. Na África Ocidental, os empresários – especialmente os nigerianos – tinham motivações incorporadas numa linguagem orientada para o lucro, enquanto os empresários da África Central e da África Oriental pareciam estar mais orientados para a justiça social e o desenvolvimento comunitário.
Os empresários do Norte de África estavam mais inclinados para o trabalho cíclico e baseado em projectos. Na África Oriental e Ocidental, houve uma maior ênfase na agricultura e na agricultura. Os empresários da África Central tiveram muitas sobreposições na forma como discutiram por que se tornaram empresários com os da África Oriental.
Na África Ocidental, os empresários – especialmente os nigerianos – tinham motivações incorporadas numa linguagem orientada para o lucro, enquanto os empresários da África Central e da África Oriental pareciam estar mais orientados para a justiça social e o desenvolvimento comunitário.
Conclusão
A investigação chega a uma conclusão singular: precisamos que mais empresários africanos adoptem a mentalidade organizacional que está ligada a um maior sucesso empresarial.
A maioria dos empreendedores com mentalidade de troca eram mulheres, destacando o nível menos formal com que as mulheres encaram as atividades empreendedoras. As mulheres empresárias, em particular, devem ser capacitadas para pensar de forma diferente. Os empresários africanos devem abraçar a linguagem da criação juntamente com uma visão clara de crescimento. Isso pode fazer toda a diferença.
Para apoiar mais empresários africanos no desenvolvimento de mentalidades disruptivas e orientadas para o crescimento, o papel da formação, da orientação e do acesso ao financiamento não pode ser subestimado. Este apoio direcionado é fundamental para aumentar a sustentabilidade e a resiliência dos empresários, dando-lhes a confiança necessária para crescerem e criarem empresas que impulsionem a prosperidade e o progresso social.